quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Governo Federal declara anistia a Paulo Freire

O governo federal declarou a anistia ao educador Paulo Freire e pediu desculpas, publicamente, às ofensas cometidas contra o educador. O processo foi julgado ontem pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, durante o Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, em Brasília.


Ana Maria Freire e Paulo Abrão Pires JúniorAna Maria Freire e Paulo Abrão Pires Júnior
O julgamento do processo, requerido pela viúva Ana Maria Freire, em 2007, foi marcado pela emoção. Para relator do processo, Edson Cláudio Pistori, a perseguição a Paulo Freire pela ditadura se traduz no impedimento à alfabetização de milhares de cidadãos e, principalmente, à conscientização de cada um deles sobre a própria condição social. “Esse pedido de perdão se estende a cada brasileiro que, ainda hoje, não sabe ler sua própria língua”, disse Pistori.


Ele sugeriu, além do pedido de desculpas formal, que seja paga uma indenização no valor de 480 salários mínimos – quantia que será limitada ao teto legal de R$ 100 mil – para a viúva do educador, Ana Maria Araújo Freire.

Ana Maria acompanhou toda a cerimônia de julgamento. “Paulo pensou muitas vezes que seria justo este reconhecimento. Ele foi considerado subversivo e acusado de comunista e fascista ao mesmo tempo. Foi, muitas vezes, humilhado pelo pecado de querer alfabetizar e conscientizar as pessoas”, disse a viúva.

História

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, em 1921, e morreu em São Paulo, em 1997. Ficou conhecido pelo empenho em ensinar os mais pobres e se tornou uma inspiração para gerações de professores. Freire desenvolveu um método inovador de alfabetização, a partir de suas primeiras experiências, em 1963, quando ensinou 300 cortadores de cana a ler e a escrever em 45 dias. O educador sofreu perseguição do regime militar (1964-1985), ficou preso por 70 dias e foi exilado por 16 anos, considerado traidor.

Em 1967, durante o exílio, no Chile, escreveu o primeiro livro, Educação como Prática da Liberdade. Em 1968, publicou uma de suas obras mais conhecidas, Pedagogia do Oprimido. Freire retornou ao Brasil em 1980, com a anistia que permitiu o retorno dos exilados, e foi nomeado secretário de educação da cidade de São Paulo, cargo que exerceu até 1991.

“Resolvi fazer o requerimento para resgatar a cidadania de meu marido e atestar que ele é um verdadeiro brasileiro. Assim como muitos, ele lutou por um Brasil mais bonito e mais justo”, disse Ana Maria Freire. A reparação econômica concedida pela comissão de anistia à viúva de Paulo Freire será de 480 salários mínimos, não excedendo o teto estipulado de R$ 100 mil, pagos em parcela única.

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